Estranhos prazeres
Eram nove e meia quando ele fez o telefonema. Do outro lado da linha atendeu uma voz feminina e sensual. Lá fora a chuva caía forte.A chamada foi curta, ele apenas deu o seu número de cartão de crédito e as indicações do que esperava ter essa noite. Ele esperava uma mulher bonita e elegante. Devia ter cabelo escuro, olhos escuros. Esperá-la-ia pontualmente às onze.
Lá fora a chuva caía revolta pelo vento. Irada, apaixonada, solta.
A voz feminina fez outra chamada que foi atendida por um voice mail. Deixou todas as indicações, disse que a limusina a iria buscar . A morada e o código da porta , 1886.
Eram vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos quando o motorista, de chapéu de chuva aberto, lhe abriu a porta. Pé ante pé, em passos limitados por um vestido elegantemente cruel, ela foi até à porta daquele edifício novo e moderno. Inseriu o código. A porta abriu, o elevador chegou e subiu, eram vinte e três horas quando o seu dedo tocou a campainha.
A casa estava em penumbra. Só o calor da lareira e de velas iluminava o ambiente sombrio. Vela, velas e mais velas espalhadas por todos os recantos. A porta fechou-se atrás dela em silêncio. A primeira coisa que ele lhe disse foi:
- Não me podes olhar nos olhos.
A segunda foi:
- Dá-me o teu casaco e não fales. Só podes falar se te perguntar algo.A terceira instrução foi:
-Deita-te no sofá em frente à lareira.
Ela ficou na sala sozinha durante alguns minutos. Trazia um vestido preto justo e pelos joelhos, com uma abertura de lado decotado. Em silêncio, nem passos se ouviam. Havia algo que perfumava o ar mas que ela não conseguia distinguir o quê. Ele aproximou-se dela por trás do sofá e vendou-lhe os olhos. Foi até à sua frente, levantou ligeiramente o vestido e começou a senti-la. As suas mãos estavam por todo o seu corpo. Começou por tirar o vestido, que tinha apenas um fecho atrás. Ela , entre o bater do coração, ouvia o descer do fecho, o consequente cair do vestido no chão. Queria senti-lo a ele também, mas havia um muro entre os dois. O muro do tamanho de um cartão de crédito. Um muro de três milhares de euros que o efeito do perfume dele insistia em fazer esquecer. Negócios são negócios.
Depois de nua, apenas de sapatos de salto agulha calçada, ela ficou de novo sem saber se ele estava ou não na sala. Alguns instantes depois, ele voltou a fazer mostrar a sua presença. Disse:
-Sabes que o teu corpo é fantástico. Tens umas ancas fabulosas, um cu, brutal.
Enquanto dizia isto, tocava-a nos sítios que estava a descrever.
- Agora vou-te dobrar sobre o sofá e vou-te molhar... E depois vou-te comer até caíres.
Primeiro começou por realmente dobrá-la sobre o sofá, com as pernas afastadas. Ele, de joelhos no chão, a sua língua entre as pernas dela, nos seus lábios femininos. Ela respirava fundo para não denunciar o prazer. Ele, que sabia o que estava a fazer, disse-lhe:
- Podes-te vir, mas por cada orgasmo que tiveres, vais sofrer um castigo. E eu vou saber quando te vens...
E riu-se, voltando ao que estava a fazer. Novamente a língua na sua vulva, novamente ela a respirar profundamente.
Pôs um dedo, depois outro. Estava a fazer de propósito para que ela se viesse; queria castigá-la. Ponto G. Hum... tão fácil de atingir assim... Um orgasmo. Ele riu-se novamente. Palmadas no rabo.
- Não te queixas? Não te dói? Muito bem, vamos brincar mais. Da próxima, pensas antes de te vires na minha boca...
Ele tirou o cinto das calças e deu-o a ela para segurar. Era perverso o jogo que ele estava a fazer, e a gostar.
Ela segurou o cinto na sua mão enquanto sentia que ele, agora sem usar a língua a tocava só com os dedos. Forçava o seu peso nela, introduzia mais dedos usando os sumos que saiam dela involuntariamente, brincava com seu clítoris. Até que ela voltou a sentir o calor correr pelo seu corpo, deixar-se abandonar... Não conseguiu evitar um segundo orgasmo, tentando disfarçá-lo a todo o custo, não deixando escapar um som sequer...Ao perceber através das suas contracções que ela se estava a vir outra vez, a mente dele aguçou-se para o prazer de usar cinto na pele branca dela. Deixou-a vir, fazendo que ela sentisse um orgasmo profundo, aumentando-o com beijos no pescoço e mordidas ligeiras nos ombros. Acariciou-a nas costas até ao último sacudir de prazer e tirou o cinto da mão dela.
Com o cinto na sua posse, ele chicoteou-a primeiro ao de leve, depois agressivamente, dizendo-lhe:
- Não podes chorar. Apenas gemer.
Ela, sentindo o cabedal na sua pele, aceitava a dor de olhos fechados por trás da venda preta e perfumada. Sentia-se ferir, deixava-se ferir... Por vezes, alguns homens gostavam assim. Ele pagava-lhe para lhe dar prazer, ela obedecia. Não era o primeiro homem que se excitava com a inflexão de dor, não seria o último que conheceria com gostos semelhantes. Não estava ali para questionar, apenas para satisfazer.
-Agora vamos deitar-te no sofá, para relaxares...
E com um sorriso sarcástico, tirou as calças, os boxers e endurecido entrou nela.
Penetrou-a suavemente, instigando o prazer para que voltasse até ao corpo dela nu. Ele viu que os seus mamilos endureciam de prazer, e continuou a suavizar a sua dor, acariciando-a como o mais terno dos amantes. Sentia que ela se encontrava perdida num misto de prazer e dor. Sentou-a em cima dele, sem se retirar, fazendo-a estar numa posição mais vulnerável ao prazer final da volúpia. Ele queria que ela se viesse de novo, para que lhe pudesse infligir outro castigo. E assim foi. Por mais que tentasse fugir da paixão que lhe era imposta, os movimentos dele dentro dela atiçavam-na para o sentir. Ela não queria, sabia que teria consequências, conhecia aquele caminho de dor mas ele acarinhava-a num misto de ternura e desejo, entrando nela, saindo dela, puxando pelo orgasmo dela. Até que ela cedeu novamente. E durante o seu orgasmo, ele intensificou os movimentos do seu corpo, sugando os seus mamilos sedentamente, de tal modo que o gemer dela passou a gritar por estar entre a dor que ainda não sentia e o prazer que a dominava. Pela força dos sentimentos que estava a ter. Pelo desejo carnal e intenso. Pelo aroma da pele dele.
-Mais uma vez, não resistir tem custos. Diz-me o teu nome.
Ela hesitou… Ainda estava no limbo de sensações e luxúria.
- Angel.
- Angel, agora vais sentir calor...
De olhos ainda vendados, ela não conseguia ver que ele tinha ido buscar uma vela. A vela era de cor vermelha, instigadora, castigadora. Angel estava deitada no sofá, o seu coração pulsava de medo em arritmia. De repente, gotas de cera a ferver caiam-lhe sobre a pele doce e alva. Ela queimava, ardia, mas no seu íntimo, não conseguia evitar sentir algum deleite perante o que lhe estava a acontecer. A mente, para suportar a dor, aceita-a e faz dela prazer. Sexo, sem dor, não é a sério. Há pessoas que precisam da dor para sentir prazer.As gotas caíam em fogo. Azul em chamas. Lindo o penetrar da cera em fogo na pele sem a ferir verdadeiramente. A sensação de uma dor profunda e de curta duração. A dor que se transforma em prazer.
Ele, com uma mão disponível, pegou no cinto e voltou a chicoteá-la. Desta vez oscilava entre a força bruta e o bater suave.
Ela estava perdida na sua mente. Via cenas de prazer quando sentia dor e sentia dor quando ele lhe oferecia prazer. Estava confusa nos seus sentidos e sentia tudo em todos os momentos. Como nada via, absorvia com todos os outros sentidos. Ele tomou-a por trás, fazendo-se vir numa posição animal. O orgasmo dele foi forte e demorado, trazido por uma brutalidade cruel e dominadora. Ele encontrou satisfação quando se veio dentro dela o mais brutalmente possível.
- É lindo sentir-me assim tão bem...
Pouco tempo depois, ela estava encostada ao braço do sofá. Ele, recuperado, tirou-lhe a venda e pôs uma almofada no chão em frente a si mesmo.
- Podes metê-lo na boca. Quando me fizeres vir, vestes-te e podes sair.
Enquanto ele esteve na boca dela, ia instruindo-a quanto ao modo de o satisfazer melhor. Dizia-lhe que usasse as mãos, usasse os dedos, o lambesse desta e daquela forma. Quase a vir-se disse:
- Depois de acabares, podes sair. Sabes onde fica a porta.
Quando estava prestes a sair, ela ouviu “obrigada” dito num tom suave e ao longe , mas não olhou sequer para trás, fechando assim a porta atrás de si. Já havia luz, mas a chuva persistia forte e revoltada.
Eram quase seis da manhã quando o dedo dela tocou o botão para que o elevador a viesse buscar de mais uma noite de estranhos prazeres.